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14 outubro, 2019

O amor não termina, ganha outros formatos


Não importa onde tu estejas, com quem tu andes ou com quem tu durmas... a dor e o vazio serão teus féis companheiros. Pois eles são doenças que remédio algum cura. Vão connosco para toda parte, e é como se de forma inconsciente expandíssemos um pouco destes malditos.  Contaminamos os que nos abraçam com ternura, expulsamos os que nos beijam com fervura e transmitimos as nossas angústias e feridas àqueles que só nos querem curar... A dor que nos causaram nós causamos a outros seres inocentes e assim começamos um ciclo infindável de vazios. 
No final somos todos vazios em busca de preenchimento... voltamo-nos para fontes diferentes, mas buscamos com a mesma avidez.  

Não importa onde tu estejas, com quem tu andes ou com quem tu durmas... a dor e o vazio serão teus féis companheiros. Pois eles são doenças que remédio algum cura, fazem parte de nós e são contagiosos...  Contaminamos os que nos abraçam com ternura, expulsamos os que nos beijam com fervura e transmitimos as nossas angústias e feridas àqueles que só nos querem curar... A dor que nos causaram nós causamos a outros seres inocentes e assim começamos um ciclo infindável de vazios. 
É tão difícil dizer-te isso, mas cedo ou tarde terias de saber. Bem... Aquela dor que sentes por teres perdido um amor que tinha potencial de fazer parte do teu final feliz, pode nunca passar. Talvez leves esse vazio para o resto da vida, e tenhas de aprender a tocar outros corpos e amar outras almas enquanto abraças o esquecimento do amor que adiaste. Talvez vivas com o arrependimento de não teres ignorado o barulho do ouvido e dado ouvidos ao teu coração, e tenhas de lidar com recomeços, ouvir novas vozes e provar sabores desconhecidos. Vai doer, mas é no processo que irás perceber que nem todo amor é para ser vivido, nem todo potencial será atingido e que quando entre duas pessoas existe mais guerra do que paz o melhor é ir embora... Ainda que caminhes com feridas abertas, doenças crónicas e vírus de laboratório, a vida encontrará um jeito de te brindar com encontros mais felizes e outros vazios que te complementem.
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11 outubro, 2019

Uma carta aberta à insegurança


Ela sempre desejou que eu tivesse morrido. Não suportava ver-me renascer depois de cada facada que me dava. Não suportava ver o meu sorriso de glória, após vencer mais uma batalha e encontrar luz em meio a escuridão. Ela, a insegurança, sentia prazer em ver-me chorar, pois alimentava-se com as minhas lágrimas e dançava sobre o meu corpo cansado. Ria-se dos meus medos, colocava defeitos no meu corpo, confundia os caminhos do meu rosto. Por pouco cedi, muitas vezes cai e acreditei nas mentiras que ela me contava sobre mim... já me vi feia, gorda, inútil, algumas vezes magra demais. Já deixei de comer para perder quilos e meses depois comi em excesso para preencher o vazio que ela me causava. Sentia-me seca, como se dentro de mim habitasse um vácuo infinito onde eu me perdia vezes sem conta.
Ela, a minha insegurança, afastou-me de todos que me amavam, ensinou-me a recusar elogios e ver como ameaça quem só me quis bem. Com ela aprendi que todos os amores são difíceis, relações dão trabalho, quem ama sofre... Ela despertou em mim um incontrolável desejo de amar quem não me quis por perto e desejar quem me desdenhava. Há um manual de instruções que ela forçou-me a ler e uma das regras era dar dar dar e nunca receber. Servir tornou-se a minha única definição de amor, eu tinha de me sacrificar por quem eu gostava, tinha de fazer das tripas coração para satisfazer quem eu amava... sem esperar que me amassem de volta, porque a minha mente não reconhecia receber como um acto de amor. Até que um dia revi aquele manual e percebi que o seu único objectivo era roubar a minha alegria, matar a minha auto estima e destruir o meu presente. Então, rasguei-o com determinação e redefini as minhas metas, sonhos e propósito. Hoje escrevo esta carta aberta à minha insegurança.

Minha querida insegurança,
A vida é tão leve sem ti, os amores são tão fáceis, as relações tão frutíferas, o corpo tão bonito, a alma milagrosa.  
Hoje longe das tuas amarras, continuo a renascer, a caminhar e a florescer. Tentaste matar-me, mas te esqueceste que eu sou a flor que nasceu no asfalto.
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09 outubro, 2019

Esquece os feeds e filtros

Algumas vezes olhamos a nossa volta e parece que todos estão mais felizes, mais bonitas, mais saudáveis e realizados. Parece que o mundo todo tomou um rumo e nós ficamos para trás… olhamos para o lado e vemos a relva do vizinho mais verde do que a nossa, abrimos as redes sociais e vemos sorrisos largos, sonhos realizados, amores que deram certo e diplomas conquistados. Nós, vestidos com roupas velhas, sentados no sofá da sala, apreciamos tudo isso e, inevitavelmente, surgem as cobranças e os questionamentos. Será que sou o único que não encontra um amor? Será que sou o único que não tem um negócio? Será que sou o único que ainda não descobriu o seu propósito? Será que sou o único que não consegue ir ao ginásio com frequência? E a universidade? Quando é que termina este castigo? Será que sou o único num emprego que não gosta? Será que sou o único que não tem a pele perfeita? Juro que me faço, quase sempre, esta última pergunta. Estamos expostos a tanta informação que nos esquecemos de olhar para a nossa relva e cuidar da nossa vida. Entre actualizações de feeds e sei lá quantos feeds, tornou-se mais confortável olhar para a vida do outro e fingir demência quando se trata de tomar atitudes em prol do nosso desenvolvimento pessoal. Sentados no sofá com as nossas roupas velhas, esquecemos que as pessoas que admiramos também são como nós. Aquela modelo também tem inseguranças, aquele empreendedor gasta mais do que ganha, aquela moça com corpão também come hamburger, aquela escritora não lida assim tão bem com todas as suas emoções. No fundo, somos todos iguais com fotografias e narrativas diferentes nas redes sociais.
Fora do Instagram nenhuma relva é assim tão verde. Já se esqueceram dos filtros? Bem… o que eu quero dizer resume-se nesta frase de um autor desconhecido: ‘’no Instagram a vida real é mais bonita, mas na vida real o Instagram é mais bonito’’. Por isso, vive a tua vida com autenticidade e sem comparações. Afinal, actualizações no TEU estilo de vida e na TUA saúde mental valem muito mais do que feeds e filtros.
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19 março, 2019

Ao meu Ex-amor



De todas as mentiras que me contaste, a mais bonita é aquela em que dizes que não consegues viver sem mim. Nela deste-me o valor que eu achava que não tinha, a importância que de mim mesma escondia e a vontade de ser sempre mais para ti. De todas as promessas que me fizeste, a mais memorável é aquela em que falavas sobre os inúmeros lugares que iríamos conhecer juntos, sobre as comidas novas que iríamos experimentar, e até experimentamos... Lembras-te de quando me levaste para aquele restaurante japonês e assististe-me em gargalhadas a fazer caretas enquanto provava o tal sushi que tu tanto amavas?
Tu, meu querido ex-amor, foste o mal mais necessário que alguma vez me aconteceu.
Acreditando nas tuas mentiras percebi que quando ditas com convicção as palavras são capazes de mover montanhas, partir ou até mesmo concertar corações.
Por isso te agradeço por me fazeres descobrir um lado de mim que andava escondido, por me mostrares que nenhum amor é válido quando vem do calor de dois corpos excitados e nenhuma promessa é credível quando nasce no auge da emoção. Foi contigo, querido ex-amor, que descobri que antes de desejar conhecer qualquer lugar neste imenso mundo, devo conhecer a mim mesma e mergulhar neste cosmos que é a minha alma. Não é em França, Alemanha ou na Inglaterra que serei feliz, não são promessas que concertam um amor fragmentado.
A ti, querido ex-amor, agradeço por me teres mostrado que amores rasos não elevam a alma... e que eu? Ah! Eu nasci para voar, pois eu tenho asas do tamanho do mundo!

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19 setembro, 2018

Viana não dorme


Viana não dorme. Diz-se, por aqui, que ninguém tem tempo para isso. A vida é rápida demais para se perder tempo com sono. Tantas milhas por percorrer, tantas lutas por lutar, tanto sofrimento por sofrer, tantas lágrimas por derramar. Dormir? Quem tem tempo?
Eu era o único que dormia, sempre que  vida me pesasse demais e os fardos se tornassem insuportáveis. Tinha fama de preguiçoso, o que veio desgraçar a família. Porque não lutava, não sofria, não chorava... quer dizer, não chorava com os olhos de se ver, apenas com os da alma. 
Chorava por dentro, um choro assim esperançoso que me dava a certeza de novos sorrisos. Estes eu não interiorizava, sorria com os lábios de comer e de desejar com estes mesmo que a terra um dia há de beijar. Quando dormia, eu tinha visões da felicidade. Uma Viana diferente que tinha espaço para tudo e todos, que lutava para vencer e não para sofrer. Ao dormir eu via que eu e todos os meus vizinhos também tínhamos um lugar no mundo, a vida continuava depois do nosso quintal e o dia não terminava quando o sol se deitava. Quando eu dormia, eu ouvia a voz de Viana e não era só eu... quando ela falava todo mundo parava para escutar, sentados numa roda assim como fazemos quando falta energia e a vizinha Eva nos chama para ouvir as histórias do tempo de antes do colono. Ela falava de reis, rainhas e outras coisas tão maravilhosas que pareciam inventadas. Era isso que eu via, coisas que pareciam inventadas. Lembro que um dia contei à mãe sobre estas visões.
''Já te falei para parar de dormir. Você num escuta né? Depois ficas a ter esses sonhos de maluco.''
Repreendia-me, enquanto preparava a rodilha. Eu única coisa que escutei foi esta palavra que tem sons de passarinho ''Sonho'' será que se escreve com com de sapato ou de cão? 
''Você é melhor ficar só calado. Os bongôs então estão a levar.''
Ela dizia e, finalmente, colocava a rodilha na cabeça e eu ajudava-a a colocar a bacia por cima. Era fruta que ela vendia, mas em casa não dava a ninguém. 
Aqui na minha zona, é como se houvesse todos os dias um festival de fingimentos, onde todos atiram as suas frustrações para o alto, acendem velas para aquecer a fé arrefecida e entoam melodias de tristeza, mágoas e descaso. Dançam também, uma dança para anestesiar as dores de um povo que o mundo esqueceu, um comunidade de órfãos de pais vivos e pobres de tesouros escondidos.  Durante o festival, a vizinha Eva era a única que falava.
''Como pode existir tanta morte num lugar tão vivo?'' Perguntava para si mesma, e para além de mim mais ninguém a escutava. 
Ela tinha razão. Tudo aí era passamento, só o físico é que vivia. Foi então que me lembrei da minha visão, aquela coisa maravilhosa que afinal se chama sonho. 
E se eu partilhar com os meus vizinhos? Se eu lhes contar que se dormirmos iremos ver uma Viana diferente? Que teremos luzes para criar um novo futuro?
Olhei de lado e a mãe já tinha ido zungar a fruta, os bongôs não tinham chegado ainda. 
Aproveitei para entoar o hino que, embora fosse o fruto proibido, iria alimentar o meu povo perdido. 
- Olha o sonho, olha o sonho! Arreiou, arreiou no sonho. Dorme um leva dois. 
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