11 outubro, 2019

Uma carta aberta à insegurança


Ela sempre desejou que eu tivesse morrido. Não suportava ver-me renascer depois de cada facada que me dava. Não suportava ver o meu sorriso de glória, após vencer mais uma batalha e encontrar luz em meio a escuridão. Ela, a insegurança, sentia prazer em ver-me chorar, pois alimentava-se com as minhas lágrimas e dançava sobre o meu corpo cansado. Ria-se dos meus medos, colocava defeitos no meu corpo, confundia os caminhos do meu rosto. Por pouco cedi, muitas vezes cai e acreditei nas mentiras que ela me contava sobre mim... já me vi feia, gorda, inútil, algumas vezes magra demais. Já deixei de comer para perder quilos e meses depois comi em excesso para preencher o vazio que ela me causava. Sentia-me seca, como se dentro de mim habitasse um vácuo infinito onde eu me perdia vezes sem conta.
Ela, a minha insegurança, afastou-me de todos que me amavam, ensinou-me a recusar elogios e ver como ameaça quem só me quis bem. Com ela aprendi que todos os amores são difíceis, relações dão trabalho, quem ama sofre... Ela despertou em mim um incontrolável desejo de amar quem não me quis por perto e desejar quem me desdenhava. Há um manual de instruções que ela forçou-me a ler e uma das regras era dar dar dar e nunca receber. Servir tornou-se a minha única definição de amor, eu tinha de me sacrificar por quem eu gostava, tinha de fazer das tripas coração para satisfazer quem eu amava... sem esperar que me amassem de volta, porque a minha mente não reconhecia receber como um acto de amor. Até que um dia revi aquele manual e percebi que o seu único objectivo era roubar a minha alegria, matar a minha auto estima e destruir o meu presente. Então, rasguei-o com determinação e redefini as minhas metas, sonhos e propósito. Hoje escrevo esta carta aberta à minha insegurança.

Minha querida insegurança,
A vida é tão leve sem ti, os amores são tão fáceis, as relações tão frutíferas, o corpo tão bonito, a alma milagrosa.  
Hoje longe das tuas amarras, continuo a renascer, a caminhar e a florescer. Tentaste matar-me, mas te esqueceste que eu sou a flor que nasceu no asfalto.

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