Ao meu amor não correspondido,
Talvez as palavras dessa carta acabem por ser irrelevantes,
pois podiam ter sido postas em acção quando tivemos a oportunidade, ao invés de
serem miseravelmente escritas depois dessa minha tremenda embriaguez de solidão
que amanha me causará ressaca de desamor, auto-compaixão e desilusão. Na
verdade, estou perdido entre cada momento passado que compartilhamos, estou
preso ao mais ínfimo pedaço doce do teu ser que insiste em reaparecer na minha
mente da forma mais nítida e insistente que se possa imaginar ser possível.
Amor não tem controle sobre mais nada, senão corações. E
nossos corações, imperfeitos desde a criação como são, não foram
suficientemente fortes para suportar toda a pressão exterior que o mundo pôs
sobre nós. Agora, tudo sobre ti que em mim ficou, acabou reduzido em
lembrança... E são várias as lembranças. Lembro-me do teu olhar penetrante, com
aquele sabor menino capaz de penetrar qualquer alma humana e desvendar os mais
profundos mistérios do mesmo. Lembro-me do sorriso tímido que deste quando eu
contei-te a única piada sem graça que sabia, no dia em que o destino maroto
decidiu apresentar-nos um ao outro (É, ainda acredito que foi obra do destino).
Lembro-me de tudo sobre ti: teus sonhos, tuas ilusões, teus amores e tuas
decepções.
Ainda vivo iludido. Vivo agarrado a esperança semi-viva de
que tu voltarás e que cada momento não vivido, será duplamente ampliado para
algo amorosamente ridículo e extravagante. Talvez tenha sido isso o que faltou:
Amor ridículo. Sou movido pela ilusão de que uma segunda chance seja
amorosamente possível. Ilusiono que Deus, o mundo e tudo em que como humano
sedento de teu amor que sou acredita, conspire a favor duma possível
correspondência entre nós.
Talvez essas palavras acabem sendo incompreendidas, mas como
Fernando Pessoa escreveu:
O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Miguel Dos Santos
Ao meu amor não correspondido,
Vamos voltar para 2012: No dia do nosso aniversário de
namoro, eu pedi que escrevesses uma carta de amor para mim, e tu, com o teu
antigo bom humor, limitaste-te a transcrever o poema de Fernando pessoa ‘’Todas as Cartas de amor são ridículas’’
e oferecer-mo com uma caixa de chocolates.
2 anos depois escreves-me esta carta... O que posso dizer?
Sinceramente, esperava que estes meses de distância
influenciassem no teu crescimento, mas continuas a ser o mesmo homem de sempre,
aquele que só depois de uns copos consegue dizer o que sente. Palavras
adoráveis são inúteis perto de acções
detestáveis. Tu mexeste com o que há de mais intimo em mim, fizeste com
que eu entregasse de mão beijada tudo aquilo que um dia me pertenceu,
entreguei-te o meu corpo, a minha alma, a minha mente. Perto de ti, o mundo não
existia, passei por cima da minha família, defendi-te até mesmo quando estavas
errado porque para mim o mundo não era mundo se tu não estivesses por perto.
A nossa relação não era perfeita, garanto-te que nunca
esperei pela perfeição, o meu único desejo era que tu lutasses por nós, e nem
sequer precisavas de ir comprar armas porque já estava tudo nas minhas mãos só
que tu não quiseste receber. Lembras-te de quantas vezes eu chorei e olhei-te
nos olhos a pedir que demonstrasses só um pouquinho do teu amor? Lembras-te?
Claro que sim, tu sempre disseste que tenho um olhar penetrante. Olha só que
engraçado! Enquanto eu chorava por amor, tu viravas o rosto e dizias: ‘’Não gosto quando olhas para mim assim.
Limpa estas lágrimas.’’ Eu limpava
as minhas lágrimas e continuava a amar-me por nós os dois, dava-te tempo para
perceberes a mulher maravilhosa que estavas a perder. Depois de veres os meus
olhos livres de lágrimas, tu abraçavas-me e beijavas cada centímetro do meu
corpo, elogiando-me pelas pernas e seios fartos, enquanto tiravas a minha
roupa. O teu lema era: Fazer amor? Sempre. Falar sobre ele? Jamais!
Com o tempo, tudo perdeu o encanto. Eu merecia muito mais do
que aquilo que me oferecias. Despedi-me de ti e dei boas vindas a vida que
estava a bater a minha porta. Novos mundos e tu já não fazias
parte dos meus planos. Tu cavaste o teu próprio buraco.
Os meus sonhos? Nunca me ajudaste a segui-los.
As minhas ilusões?
São elas que me fazem ter esperança no mundo.
As minhas decepções? Foste o maior motivo.
Os meus amores? Antes de ti nunca houve nenhum mas tenho fé
que o destino que chamas de maroto, reserva algo bom para mim. Tenho fé.
Como escreveu Bernardo Soares, semi-heterónimo de Fernando
Pessoa: ‘’Há momentos em que tudo cansa,
até o que nos repousaria’’. Por isso, não chorei de emoção quando li a tua
carta, estou cansada demais para isso. Como dizia o papel que me deste ‘’Todas as cartas de amor são ridículas''
Rosa Soares
Gostei do texto. Gosta da prosa, prosa me faz pensar em poesia e poesia nos faz viajar.
ResponderEliminarA nossa relação não era perfeita, garanto-te que nunca esperei pela perfeição, o meu único desejo era que tu lutasses por nós, e nem sequer precisavas de ir comprar armas porque já estava tudo nas minhas mãos só que tu não quiseste receber. Lembras-te de quantas vezes eu chorei e olhei-te nos olhos a pedir que demonstrasses só um pouquinho do teu amor? Lembras-te? Claro que sim, tu sempre disseste que tenho um olhar penetrante. Olha só que engraçado! Enquanto eu chorava por amor, tu viravas o rosto e dizias: ‘’Não gosto quando olhas para mim assim. Limpa estas lágrimas.’’ Eu limpava as minhas lágrimas e continuava a amar-me por nós os dois, dava-te tempo para perceberes a mulher maravilhosa que estavas a perder. Depois de veres os meus olhos livres de lágrimas, tu abraçavas-me e beijavas cada centímetro do meu corpo, elogiando-me pelas pernas e seios fartos, enquanto tiravas a minha roupa. O teu lema era: Fazer amor? Sempre. Falar sobre ele? Jamais!
ResponderEliminarQue viagem!... Sinto-me bem. É a primeira vez que tenho contacto com os teus textos, um amigo indicou, e com todo respeito permita-me o elogio: bem bom. Amei viajar por este texto, principalmente o parágrafo acima. Fui a um lugar longínquo e consegui medir os ângulos... Causaram em mim um impacto forte...
Parabéns!!!!