Mostrar mensagens com a etiqueta Suely Soares. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Suely Soares. Mostrar todas as mensagens

07 setembro, 2016

Paloma



Ela gosta mesmo dos exageros, gosta do brilho intenso, do carro caro, do anel com pedra de diamante, do sapato da Gucci e da pasta da cartiér 
Ela gosta mesmo daquilo que é notável, da roupa cara, do relógio raro, da viagem luxuosa com direito a estadia num hotel mais luxuoso ainda... 
Ela gosta de facto daquilo que é invejável, do rapaz mais cobiçado, do cabelo mais comprido, do presente mais bem escolhido e de ser amada, muito amada... 
Ela gosta mesmo é de ser admirada, é charmosa, muito cheirosa, tem presença e esta constantemente com um sorriso no rosto 
Ela é da festa, da luxúria, da intensidade, do materialismo, é a chefe dos exageros, da vida bem vivida... 
Prefere as estrelas ao pôr do sol 
Prefere o House ao Jazz 
Prefere um único diamante do que um milhão de pedras 
Prefere a loucura do que a ternura 
Prefere a paixão ao amor 
Prefere a intensidade do que a suavidade 
Prefere o jardim inteiro do que apenas a mais bela flor 
Não quer o que é simples, ela quer o composto, quer tatuagens, quer dinheiro no bolso... 
Quer conhecer, quer se envolver, quer errar, mas também quer aprender, quer valorizar e nunca se arrepender... 
Quer a vida na sua plenitude, quer tudo e tem atitude, quer saúde e tem força de vontade, quer poder por toda a eternidade... 
E por tudo que quer ela luta, e tudo pelo que luta consegue. Mas ela gosta de tesouros momentâneos e é ai que ela se perde. No fim do dia sente um vazio, com um nome que ela não consegue enxergar. E lá vai ela preencher o balão com mais um pouco de ar.  
Ela sabe que há um risco de se perder em tanto querer, por isso entrega-se de corpo e alma para a vida e a tudo de bom que ela tem a oferecer!!!

Autora: Suely Soares
LEIA MAIS

31 agosto, 2016

Todos nós merecemos


E vejo-me revigorado, já não sou o mesmo de outrora. Olho para aquele rapaz que cresceu no Sambizanga e que assaltava para sobreviver. Para sobreviver? Não... Sobreviver eu bem conseguiria, se vendesse alguns produtos na zunga, como tantos rapazes da minha idade faziam na altura. Eu queria era viver, pagar também rodadas na lanchonete da Tia Maria, queria ser também conhecido, reconhecido, seja pelo que fosse. E era, quem não conhecia o Zé Cabrão do beco 12? Fosse pelo record de vezes que estive preso ou por ser o mentor dos pequeninos para a vida do crime. Quantas mães me praguejaram? De tanto azar que desejaram para mim, cheguei a pensar que nunca mais fosse ter sorte na vida, cheguei ao fundo do poço.
E hoje, como um milagre me vejo aqui, a lembrar dos dias pesados como coisa do passado, a rir das corridas que apanhava da policia, e mais incrível ainda, vejo-me sendo amado por uma mulher peculiar que quase perdi: Sandra...
A Sandra é a mulher da minha vida e da minha morte, do meu corpo e da minha alma. A Sandra, transformou-me num outro homem. Ainda me lembro do dia em que fiz o último assalto da minha vida, fugi para a nossa casa, cheguei estranho super alterado e como sempre pedi para que ela ficasse apenas calada, ela não disse nada. Mas no dia seguinte, vi na sala as malas feitas, aquela mulher estava a ir embora de vez da minha vida.
E pela primeira vez tive tanto medo, tinha medo de falar, medo de a tocar, medo de errar e piorar tudo. Minhas palavras:
— Sandra,  fica!
Mas parecia que ela não ouvia nada. 
Pedi desta vez com lágrimas nos olhos:
— Sandra, não me abandona! 
Mas nada parecia fazê-la parar. Ela arrumou tudo e foi embora. 
Fui para o quarto, não sabia o que fazer, recebi uma mensagem dela:
— Você nunca vai mudar, mas meu sentimento por ti vai, eu vou fazer questão que este amor se transforme em nada.

Meu sangue ficou quente, minha cabeça andava as rodas, queria que fosse um caso de apelar pela violência, era mais fácil e eu saberia bem como resolver. Mas era um caso de tomar uma atitude que tocasse o coração dela. Sim, eu queria fazer diferente a final, queria ser um pouco, ao menos um pouco daquilo que ela sempre mereceu. Pela primeira vez senti urgência em mudar...
Desfiz-me da minha arma, mudei de bairro, peguei as economias do último assalto e fui atrás da Sandra no Sumbe, mas não adiantou, tivemos apenas um encontro, mas ela mais parecia um cubo de gelo. Mal olhou para a minha cara, eu ia explicar que mudei, mas desta vez foi ela a pedir que eu me calasse, disse que tinha pena de mim. Eu? Zé Cabrão! Nunca nenhuma mulher tinha ousado se dirigir para mim assim. Calei-me e fui embora, chorei muito no caminho, até que me olhei no espelho e comecei a rir, ri porque vi no espelho um homem diferente, um homem que sente, um homem que chora, que analisa. Saí do Sumbe decidido, já não correria atrás dela, mas ela ouviria falar de mim, e me pediria desculpas por me ter tratado assim.

Mudei, consegui um emprego numa estação de serviço, cheguei a pensar em entregar-me a policia. Abri as portas da minha casa, para aquelas pessoas que sempre destratei, mas no entanto só queriam me falar de Jesus. Passei a fazer trabalhos voluntários, arranjei até um segundo emprego na cantina do Dialó. Fazia questão de ir algumas vezes la para o bairro, assim os comentários da minha mudança chegariam aos ouvidos de Sandra. E chegaram, mas nada adiantou. Então tudo começou a perder o sentido, se não tinha a mulher da minha vida comigo, do que me adiantava ter mudado?
Voltei para as drogas, voltei para o pecado. Foi quando um dia sonhei que eu e Sandra tivemos um filho, e eu dizia para o meu filho:
— Tu e a tua mãe são tudo que tenho e por vocês eu vou mudar.
 e o pequenino respondeu-me:
— Papá muda por ti, por amor a vida e pelo amor de Deus.
Acordei sobressaltado, ali estava a resposta, eu precisava fazer de coração, eu precisava mudar por mim. Passei a redobrar o meu sacrifício no trabalho, fazia trabalhos voluntários no lar da terceira idade, fumava menos e jogava futebol todas as semanas com os colegas da estação. Mandava mensagens para a Sandra, mas ela nunca retornou. Até que ganhei coragem e decidi ligar para ela, e ai percebi que para fugir de mim ela até de número trocou. Sentia-me amargurado, sem vontade sequer de tocar em outras mulheres, nem mais a bebida me dava prazer, trabalhava que nem um condenado para esquecer.
Até que um dia, depois de meses, vou dar um passeio lá no bairro e ouço rumores de que a Sandra tinha voltado. Voltou junto com ela a minha alegria de viver, comecei tudo de novo, decidi reconquistar a minha mulher. Não foi fácil, mas aconteceu. E eu percebi que nada tem mais força do que aquilo que tem que ser. Hoje temos a nossa vida, a Sandra está cada dia mais linda, está grávida e dentro de mais um mês vai me dar aquele anjinho que iluminou as nossas vidas mesmo quando ainda só existia nos meus sonhos. Vamos casar e mudar para o Sumbe.
Não me arrependo de nada que vivi nesta trajetória, precisava viver o inferno para valorizar o paraíso, precisava virar escravo do pecado para entender que é Deus que me ama. Tenho um futuro brilhante pela frente, porque errados ou errantes todos nós merecemos.


Autora: Suely Soares
LEIA MAIS

17 agosto, 2016

Sou Mulher- Sou Angolana


Sou mulher e tenho fraquezas
não me julgues por focar na beleza
minha sociedade vê isso como riqueza

Sou mulher, e defendo o meu lar
Passo por cima da violência doméstica
fecho os olhos para as noites que o meu marido não passa em casa
e depois choro sozinha para aliviar

Sou mulher, trabalho, cuido da casa, 
do meu marido e dos meus filhos 
choro quando tudo que faço não é reconhecido
mas saiba o mundo, que eu amo o meu marido
para vê-lo feliz até o divido
não me julgues por me doar
é que a minha sociedade me anula se eu não tiver um lar

Autora: Suely Soares
LEIA MAIS

10 agosto, 2016

A nota de cem mil dobras


Negro! Levanta os olhos para o sol rijo e ama a tua mulher... ama a tua mulher... ama a tua mulher...
Leu pela terceira vez na nota de cem mil dobras que ele deixou na mesa de cabeceira, não conseguia nem terminar o resto da frase. Mas o que tem o dinheiro a ver com o amor? Perguntou a si mesma,
 Nada! Respondeu o seu coração.
Pois, talvez tenha tudo a ver no coração de quem nada sabe sobre o que é amar.  
Pensou.
Nunca em toda sua vida, Acácia tinha tocado numa nota de cem mil dobras, tinha isto como um sonho, mas agora com a presença daquela folha de papel e a ausência do único homem que a fez esquecer de tudo, dos medos, da dor e do mundo, ela não tinha dúvidas, aquela nota era simplesmente insignificante.
Queria que ele ficasse, ou que ao menos a levasse, para longe daquela pobreza de espírito, da exploração, da falta de esperança por dias melhores, da ausência de sonhos, da roça herdada por cada cidadão de S. Tomé...
Queria ver prédios lindos e altos, como aqueles que seu amado lhe tivera mostrado por fotos, eram altos, tão altos quanto os seus sonhos...
Levantou da cama com lágrimas nos olhos e ao dirigir-se ao quarto de banho algo chama a sua atenção para a mesa, era um pequeno bilhete deixado por aquele que a abandonou:

"Guarda bem essa nota morena,
vai te ser útil nos momentos mais difíceis,
pois só Deus sabe quando haverá chuva.
Terminei a minha missão,
os negócios correram melhor do que esperávamos,

volto hoje para Portugal, mas nunca te vou esquecer"

Autora: Suely Soares
LEIA MAIS