A vida sempre foi, para mim,
uma constante viagem; onde caímos e levantamos inúmeras vezes antes de
chegarmos ao destino desejado. Eu tinha apenas duas únicas e inabaláveis
certezas: A primeira era a de que nada na vida é conquistado sem lágrimas; a
segunda era a de que momentos baixos aparecem para nos ensinarem a apreciar os
altos. Estive tão certa destas teorias que acabei por me perder no agasalho do conformismo.
Aconcheguei-me num berço de
lágrimas, encolhi-me na rasa superfície das quedas e cobri-me com a esperança
do renascimento. Momentos havia em que, deitada na imensidão deste berço,
personificava na palma da minha mão uma vida que nunca existiu... uma vida que
eu esperava viver.
A seguir a estes momentos,
surgia a raiva; ela que sussurrava palavras de consolo ilusório no meu ouvido
poluído.
''A culpa não é tua, mas
sim do mundo que nunca te retribuiu nada! A culpa é dos que tu amas e não te
amam; daqueles por quem tu oras mesmo quando te apedrejam. O mundo deve-te
um pedido de desculpas, meu bem... Não te mexas, não dês o primeiro passo. O
mundo errou muito contigo e não te podes levantar até que ele se desculpe.''
Depois deste conselho a raiva
evaporava como pessoa, deixando no ar o seu cheiro pútrido e nascendo em mim
como sentimento incessante.
Eu pensava nos planos que deram
errado e procurava um culpado para cada um deles. Na pele dos meus braços eu
desenhava os cálculos de quanto o mundo me devia. Era muito!
Apesar de ter as contas e os
resultados, os planos, sonhos e passos necessários eu nunca iria levantar-me
daquele berço. A raiva, minha melhor amiga, fez-me perceber a verdade e aceitar
que culpados eram todos (menos eu); e enquanto todos não me entregassem o que me
deviam eu iria continuar a espera.
Em plena conformidade com o meu
estado, abracei os momentos baixos enquanto esperava que os altos me roubassem
deles.
A vida sempre foi, para mim,
uma constante viagem; mas eu escolhi parar na primeira queda.