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28 maio, 2016

A raiva, minha melhor amiga


A vida sempre foi, para mim, uma constante viagem; onde caímos e levantamos inúmeras vezes antes de chegarmos ao destino desejado. Eu tinha apenas duas únicas e inabaláveis certezas: A primeira era a de que nada na vida é conquistado sem lágrimas; a segunda era a de que momentos baixos aparecem para nos ensinarem a apreciar os altos. Estive tão certa destas teorias que acabei por me perder no agasalho do conformismo. 
Aconcheguei-me num berço de lágrimas, encolhi-me na rasa superfície das quedas e cobri-me com a esperança do renascimento. Momentos havia em que, deitada na imensidão deste berço, personificava na palma da minha mão uma vida que nunca existiu... uma vida que eu esperava viver.
A seguir a estes momentos, surgia a raiva; ela que sussurrava palavras de consolo ilusório no meu ouvido poluído. 
''A culpa não é tua, mas sim do mundo que nunca te retribuiu nada! A culpa é dos que tu amas e não te amam; daqueles por quem tu oras mesmo quando te apedrejam. O mundo deve-te um pedido de desculpas, meu bem... Não te mexas, não dês o primeiro passo. O mundo errou muito contigo e não te podes levantar até que ele se desculpe.''
Depois deste conselho a raiva evaporava como pessoa, deixando no ar o seu cheiro pútrido e nascendo em mim como sentimento incessante. 
Eu pensava nos planos que deram errado e procurava um culpado para cada um deles. Na pele dos meus braços eu desenhava os cálculos de quanto o mundo me devia. Era muito! 
Apesar de ter as contas e os resultados, os planos, sonhos e passos necessários eu nunca iria levantar-me daquele berço. A raiva, minha melhor amiga, fez-me perceber a verdade e aceitar que culpados eram todos (menos eu); e enquanto todos não me entregassem o que me deviam eu iria continuar a espera. 
Em plena conformidade com o meu estado, abracei os momentos baixos enquanto esperava que os altos me roubassem deles. 
A vida sempre foi, para mim, uma constante viagem; mas eu escolhi parar na primeira queda. 
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14 maio, 2016

Afinal era 25 de Janeiro


Hoje celebramos as histórias e estórias, as grandes lutas, as memoráveis vitórias, os contos a volta da fogueira, as brincadeiras nas noites em que faltou energia, as marcas (in)visíveis que nos deixou a guerra, as sentadas familiares, as conversas mirabolantes, a vizinhança que se torna de casa, a ousadia de quinze entre milhões, aos desafios fora e dentro de nós.
Hoje celebramos a nossa gente, peculiar na sua natureza, feliz na sua própria tristeza.
Ao silêncio e aos que foram silenciados.
Aos que falam e pouco são escutados.
Aos que têm de sobra e aos que deles nada sobra.
Celebramos aos que esperam por salvação e aos que se proclamam heróis.
Celebramos a gasosa... que bebem os que têm menos sede... que condenamos mas alimentamos... a hipocrisia nas nossas vozes que anunciam mudança sem provar o sabor do poder. as criticas sem vivência. aos julgamentos sem conhecimento.
Ao doce sabor de ser quem somos.
Nesta hora celebramos a criatividade, perseverança e diversa unidade. Celebramo-nos, a nós e nós mesmo. Nós que partimos, nós que caminhamos e nós que havemos de voltar...a viver.
Faltou energia. Ouviu-se a voz da vizinha. Vamos brincar. Bicá bidón. Eu não fiquei, ficaste tu. Banana verde, banana amadureceu.
Escondemo-nos todos. Procuraste por nós. Encontraste os outros. Quando viraste para o lado, eu corri do meu esconderijo. Os outros torciam por mim, para que corresse o mais rápido possível. Consegui! Biquei o bidón.
— Bicáááá!
A cidade ouviu o grito, do meu tão confuso, porém esperado, momento. Tu também sorriste, embora aborrecido. Abraçamo-nos todos e cantamos à alegria de não sermos ainda mais velhos.
—Façam ainda uma roda. — Pediste enquanto puxavas as nossas mãos e te desfazias do aborrecimento.
Obedecemos, sem por isso não acharmos inferiores. Quando faltava energia éramos todos iguais.

"Salalé três três,
Salalé três três,
É mana Zinha, chuta,
É chuta a bola, chuta,
É na baliza, Chuta,
Do São Domingo, Chuta,
Fazer barraca, Chuta,
Kalinguindó, Kalinguidó, Kalinguidó,
Chuta!!!!!!!!!!!!
É na baliza, é na baliza Golo!''

Do outro lado do quintal, estavam os mais velhos, com velas acesas em orações ou em conversas de murmúrios. A vizinha São apareceu com um tabuleiro cheio de galetes e nos deu para comermos. Afinal era dia 25 de Janeiro de 2016, dia do sítio onde moramos.

Os mais velhos só estavam a falar baixo e a ouvir rádio de pilhas. Nós comemos os galetes e fizemos planos para quando crescermos. Depois a luz veio.
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17 janeiro, 2015

A vida dos meus sonhos



Eu vou viver uma vida cheia de aventuras, prosa, encontros, viagens, amores e alegrias plenas. Nesta vida, que irei viver, não dispenso as desventuras, amarguras, lágrimas que caiem primeiro num olho e depois no outro, sorrisos rasgados, despedidas e muito menos aquelas tristezas de chorar na almofada. Afinal, a graça da existência está nesta mistura de emoções. Eu vou viver uma vida mista. Uma vida completa! Eu vou viver uma vida em que não haverá necessidade de fazer promessas como esta. 
Porque a vida dos meus sonhos, será a minha vida real! <3 p="">
Amém.
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29 outubro, 2014

Desde quando é que espírito tem estado?


— Durante muitos anos, fui enganado pela ilusão da idade adulta. Condicionei as nossas escolhas, guardei acções para depois, e... Enfim... Fiquei ingenuamente à espera que um aniversário mudasse toda minha vida.

Enquanto dizia estas palavras, Roberto estava sentado ao lado da irmã mais nova Fany, que não compreendia onde ele queria chegar. Estavam no chão do quintal comum onde se localizava a casa dos pais e de mais duas famílias.
Nas mãos, ele tinha o bilhete de identidade e uma pastilha da marca Gorila. 

—Mas fal'inda mano...Não é bom? Os mais velhos têm bwé de liberdade! — Fany exclamou com inquietude no tom de voz.
Roberto sorriu, ao perceber a inocência da irmã.
— Liberdade é um estado de espírito.— Explicou.
— Espírito tem estado?— Fany perguntou, muito surpresa.
Roberto abanou a cabeça em negação, abriu a pastilha gorila e dividiu com a irmã. Começaram a mascar.
— Eu queria muito fazer 18 anos, sabias Fany? Mas agora que fiz, estou perdido porque todos esperam que eu tome decisões sobre a minha vida e o meu futuro, mas como irei fazer isso se ainda nem sei quem sou?— Indagou, enquanto a irmã olhava para ele atenta. Um silêncio ocupou o recinto por alguns segundos antes de o cão Bobi começar a ladrar.
— Mas mano Beto, não sabes se és quem? Êh. Olhi'nda no teu B.I.— Fany fez um balão grande que rebentou barulhento.
Roberto sorriu mais uma vez, e disse:
— O que eu sou é mais do que um documento, e a idade é apenas um número.

Bobi ladrou mais uma vez, o que chamou as amigas de Fany para o quintal. Ela despediu-se do irmão e foi brincar mete-e-tira, mas enquanto pulava pelo cordão de elásticos não conseguia parar de pensar no quanto a gente grande é complicada e fala coisas sem sentido. "Desde quando é que espírito tem estado? Estado não é só no facebook?"


- Rosa Soares in 35 é racha.
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11 junho, 2014

Alguns anos depois... Nando? O que é feito de ti?


O amor pode ter várias definições, tudo depende do definidor e da sua experiência de vida. Para os pessimistas o amor é um desastre, a pior das catástrofes, para os românticos o amor é a força que move o mundo, e já para pessoas como eu o amor é...Bem...O amor é uma coisa um pouco coiso... Bem... Pessoas como eu não sabem o que é o amor, tudo isso é muito confuso para mim porque muitas vezes pensei que o amor tivesse cruzado o meu caminho mas quando encostei para abraçá-lo tropecei e tive quedas graves que feriram até o meu coração. Deixei de procurar, porque dizem que o amor encontra quem está despreocupado, desisti da ideia de tentar encontrar uma alma gémea ou apaixonar-me a primeira vista por alguém.

Desde a minha adolescência que me apaixono com facilidade, o meu primeiro amor foi a Clarisse com dois ''s'', uma moça alta e magra que gostava de tirar fotos semi-nua para as redes sociais. Vivi algumas aventuras com a Maria Joana, ela tinha problemas com a nicotina e fazia amor com a fantasia. Depois disso veio a Camille, uma hipster francesa. O golpe mais profundo que o amor me deu foi a Bárbara, a primeira mulher da minha vida, que me abandonou para buscar a liberdade que só pode ser encontrada com a morte. Tive também a Beatriz que sonhava em ser actriz e agora brilha em HollyWood.

Hoje, tenho 25 anos e algumas marcas de amores errados. Continuo a ser um expert em tratamento da informação por meios automáticos e electrónicos e tenho a minha própria empresa, tenho carros e telemóveis da última geração, tenho uma casa enorme ocupada pelo vazio da vida que levo. Tenho uma carreira brilhante mas não tenho ninguém para abraçar nas noites frias e comemorar as minhas vitórias. 
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