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O primeiro morava perto da minha casa,
espreitava-me pela janela e desejava-me nos seus inocentes suspiros. O primeiro
homem que amei tinha um nome peculiar, olhos negros e sorriso maroto. Ele
esperava-me no portão, com bilhetes maravilhosamente mal escritos, em
guardanapos com corações desenhados e quadrados para que eu escolhesse entre o
sim e o não. Queres namorar comigo?
O primeiro homem que amei não me pedia beijos, não se alimentava com
toques e nem queria mais do que aquilo que eu lhe podia oferecer naquele
momento. Eu não disse sim nem disse não, apenas sorri-lhe e guardei a carta no
canto esquerdo do peito, éramos ainda muito novos para tomar decisões adultas.
Foram sorrisos, olhares e silêncios até o dia em que ele mudou de casa.
E veio o segundo.
O segundo homem que eu amei era mais velho do
que eu. Sabia mais, falava mais, queria mais e fazia-me sentir sensações que eu
desconhecia no meu próprio corpo. Ele tocava-me, eu tirava a sua mão, ele
sussurrava-me palavras doces ao ouvido e voltava a tocar, eu deixava, eu
sentia... Diferente de mim, ele já tinha vivido outras histórias, todas elas
com desfecho semelhante. Ele queria de mim mais do que aquilo que eu estava
preparada para dar, ele exigia que eu me entregasse, que me despisse, que eu
crescesse como as outras que ele já teve. Eu fui embora, não cedi... Até que
ele mudou de cidade e todas as memórias desapareceram no tempo.
O mais selvagem, voraz, nu e cru dos homens
foi o terceiro que eu amei. Este que vestia na pele a beleza e sensualidade, trazia
no cérebro a persuasão e intelectualidade. Ele utilizava palavras
cuidadosamente ensaiadas para seduzir e destruir mulheres. Eu fui uma das
escolhidas. Não sei se me considero vítima, até porque eu fui porque quis, mas
até o querer é uma construção daquilo que ouvimos, que observamos ou nos fazem
imaginar. Eu fui ingénua por ter ido e ele foi muito cruel por me ter seduzido
ao ponto de eu querer mais a ele do que quis a mim mesma. Ele, o terceiro homem
que eu amei, não me queria durante o dia... ele queria-me a noite, quando todas
as vozes se calam e o som dos meus gemidos é a única coisa audível. Ele queria
sentir o poder de me ouvir dizer que ele era o único homem no homem no mundo, o
único homem no meu mundo... mesmo sabendo que eu só mais uma no dele.
Este também foi embora.
O quarto homem que amei veio coberto de
passados. Olhava para mim e desejava que fosse ela. Tocava-me mas não me via,
ele fechava os olhos e imaginava-se com ela, num tempo que não hoje, numa cama
que não era minha. A minha pele era um conjunto dos pedaços das memórias que
ele tinha dela, por isso tocava-me devagar e sentia cada dor das palavras que
não foram ditas. Tocava-me devagar e sentia o remorso da despedida. Eu
abraçava-o, acolhia-o, cobria-o com o manto do meu desejo e por pouco ele me
beijava... até que percebeu que eu não era ela. O quarto homem que eu amei veio
coberto de passados, um passado mais bonito, mais cheiroso, mais intenso do que
o presente que eu lhe oferecia. O quarto homem que eu amei amava uma mulher que
nunca o amou.
Depois dele chegou o conforto, o aconchego, o
contentamento.... Depois dele chegou o quinto homem, o último, o único que eu
não amava, mas respeitava e admirava. Foi com ele que me casei.
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