Senti ontem, numa
das minhas comuns rotinas de sair à pé do trabalho e ir direitinho para a casa,
um frio estranho. Foi um frio passageiro e não era por ser inverno.Passou em
mim assim de relance, durante esta minha entediante trajetória. Deu
volta ao meu estômago e como se tratasse de uma tempestade, deixou-me com
sintomas que podiam até ser uma epidemia.
Eu sorri para ele e ele sorriu para mim. Senti-me uma boba e continuei a andar
em ritmo acelerado com o intuito que aquele frio esquentasse imediatamente.
Ele seguiu-me e eu acelerei ainda mais os meus passos.
Queria escapar de mais uma rodada de uma das maiores roletas da vida: a roleta
do amor.
"Será que dessa vez a roleta pára definitivamente?" pensei eu nos
intervalos em que olhava para trás e acelerava mais os meus passos.
As minhas mãos tremiam, as minhas pernas estavam bambas, eu quase partia o
tacão dos meus tão queridos saltos que usara naquele momento.
Encontrei então um beco, onde entrei sem hesitar e pus-me encostada à parede a
fitar o chão, a espera que ele passasse, com o meu coração quase a sair pela
boca. E lá fui eu toda atrapalhada, sem saber o que fazer e aonde o
reencontrar. Estava apenas a seguir a voz do meu coração.
A minha roleta já tinha dado centenas de voltas e o amor nunca se tinha
revelado em nenhuma delas. Eu já estava zonza, meu coração andava às
voltas de tanto fracassar.
Descalcei então e pus-me sentada no meio da avenida principal, perante uma
fonte de água que eu sempre gostei de apreciar.
—Só mais uma volta! — Disse ele ao se aproximar com o seu lindo sorriso que
tanto me encantava.
Eu fugia insistentemente do amor, do possível grande amor e ele só me pedia uma
oportunidade. Só mais uma rodada na grande roleta.
Aquilo foi como um: " mal sabes tu que pode ser desta".
Podia ser. E foi. A roleta parou naquela posição. Era ele o grande amor que
estava entre esse grande "baralho".
Aproveitei que estava naquela fonte, e em vez de jogar moedas, joguei todo o
meu passado amoroso que me impedia de viver novas histórias de amor. É
impossível viver o presente, enquanto a alma estiver presa no passado. Feridas
saram, a dor passa e o coração se restaura.
Na vida nunca há "fins" . O fim só existe depois dela. Enquanto isso,
há sempre a probabilidade daquela centésima vez, ser "a vez".
— Estou cansada de tentar. — Disse eu antes dele me beijar.
— Continua a tentar. Pode ser na milésima ou na vigésima vez. Só não pares. A
tua vida não parou. Ainda estás no teu show. As tuas cortinas ainda não se
fecharam. A tua vida ainda dura. Deixa a roleta girar.
Autora: Vanessa Neto
Vanessa melhor escritora que já vi
ResponderEliminarVanessa Neto estás a escrever muito bem... Parabéns
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