Sonhei
que tinha caído de um galho. A árvore eu não reconheci, mas sei que era fraca e
com folhas ressecadas. Tinha um
ar de quem jurava que ia me manter ali em cima, no alto, suspenso, mas no criança:
já sabia como era cair em abismos ainda pequeno. Os abismos que eu não fim
me deixou desabar. A sensação de queda enquanto sonho me persegue desde escolinha,
que se colocavam na minha frente por puro capricho de algo cair
de um galho de uma árvore me deu um formigamento nos pés, uma urgência incontrolável
por mim. E assim como a sensação de cair do alto de um precipício, pela
gravidade, uma angústia por respirar, a dó daquela solidão. Se eu fosse ter
sido pego de surpresa. Eu pensei poder ficar sentado no galho para sempre, uma
folha ressecada entre as milhares de folhas ressecadas daquela árvore, teria
coragem. Sabia da fatalidade que era a queda iminente: o meu lamento é sentindo
no rosto o vento-meu-bem-querer. Mais um segundo e poderia ser mais mundo.
E eu seria alto, regozijaria o esplendor do ar no seu clímax, no seu perigoso:
eu acreditaria mesmo que era pássaro e com o peito cheio de amor e de mim mesmo,
eu voaria. Na queda eu poderia voar? Não, não haveria queda se eu fosse
passarinho. Tudo era um só vislumbre — sucessivas imagens do imenso doce
arrebatamento. E no entanto aquele segundo, como a transfiguração da alquimia,
nunca veio. E eu, como um metal bruto, despenquei sobre mim mesmo.
Autor: Geraldo Gomes
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