Autora: Bereznick Rafael
Mais uma vez nossos olhares cruzaram-se. É incrível que
depois de tanto tempo ela parece não mudar nada, continua a mesma
menina-mulher que sorri com os olhos fechados e que empolga-se ao falar de
Sidney Sheldon. Já deve ter lido “Se houver amanhã” mais de cinquenta vezes.
Quando vi-a lembrei do nosso primeiro encontro, foi coisa do acaso, mas ela
insistia em dizer que era obra do destino. Eram meados de julho, eu andava sem
rumo e ela estava sentada no parque a ler “Um estranho no espelho” de Sidney
Sheldon e em voz alta repetiu uma das falas de Jill Castle “Eles haviam
mentido, o tempo não era um amigo que curava todas as feridas, era um inimigo
que devastava e mutilava a juventude”, foi nesse instante que guiado pelo doce
som de sua voz levei meus olhos em sua direcção, ela levantou a cabeça e nossos
olhares cruzaram-se, ela tinha os olhos mais claros alguma vez vistos por mim,
instantaneamente nossas almas se conectaram, sabíamos que tínhamos nascido um
para o outro e que nossos corações se pertenciam.
-Eles não mentiram, o tempo é mesmo um
amigo que cura as feridas, ele não é um inimigo da juventude, nossa juventude é
que está sempre com pressa a tentar correr contra o tempo. - Falei e ela olhava
para mim como se estivesse a olhar para um louco ousado que interrompeu sua
leitura. Assim que terminei de falar ela olhou para mim durante pouco mais de
dez segundos e retomou a sua leitura tentando ignorar minha presença. Com ela
eu sempre era conduzido por impulsos maiores do que eu por isso sentei-me ao
seu lado até que tornou-se impossível para ela continuar a ignorar-me e
começamos a conversar. Depois dessa conversa vieram todos os encontros que
fortificaram ainda mais aquilo que nasceu no instante em que cruzamos os
olhares.
Antes dela
eu não acreditava no amor, muito menos em amor a primeira vista. Casais a andar
de mãos dadas trocando beijos e promessas de uma vida inteira juntos era algo
que eu achava ridículo, patético, Mas depois dela... Depois dela tudo mudou,
Romeu e Julieta já fazem sentido para mim. Juntos pintamos o mundo com as cores
que nos apeteciam.
Muito tempo
passou, muita coisa mudou. Na verdade tudo mudou, enquanto eu estou aqui
sentado a imaginar o rumo que nossas vidas tomaram, ela está sentada do outro
lado a ler mais um clássico daquele que é seu escritor favorito "Em busca
de um novo amanhã" e sempre que termina um capítulo ela pousa um pouco o
livro e olha para mim abrindo aquele sorriso que faz-me ganhar o dia só para dar-me
o prazer de sentir a magia que seu sorriso meigo transmite. Cinco anos
passaram-se e sempre que nossos olhares cruzam-se eu sinto o mesmo que senti
naquele dia no parque, as borboletas invadem meu estômago e meus batimentos
cardíacos aceleram. Depois dela eu apaixono-me diariamente pela mesma mulher, a
menina que conheci no parque num dia de cacimbo. Sim,
tudo mudou depois dela!
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