Sentada no parapeito da minha indecisão, vislumbro apenas pequenas nuvens de nada.
Nada me
impede, nada me segura. Apenas minhas ânsias e as arestas de dúbios limites que
se construíram em mim com o tempo. São ideais e pre(con)ceitos ao cubo.
Delineadores de acções e reacções. Expressões de mim: anos de memórias,
verdades criadas e recontadas. Regras incontestadas.
Sorrio
levemente. Aquele doce esgar do recanto da alma, sabem? Quanto de nós é
realmente... nada?
O medo
que nos impede, a insegurança que nos cativa.. ou até a soberba que nos mantém
refém de nós mesmos. Quanto disso, na verdade, não significa nada? Tão assim é
igualmente o nada que não assegura. Não há certezas, nem
garantias.
Sentada
aqui no parapeito da minha indecisão o que vejo são nuvens carregadas daquilo
que pensamos saber. Retratos instáveis de nós e dos outros.
Seguro o
parapeito com força e estico o pescoço em busca de clarividência. Quase que
aceito o impulso de mergulhar em queda livre. Sem mais questões, sem mais
ponderar. Desta vez os meus lábios aceitam o prazer de um sorriso aberto. A
Incerteza é aquela amiga descarada. Que faz em voz alta as perguntas que não
queres responder. É o vento atrevido que levanta-te a saia sem aviso e te deixa
nua, exposta: E agora? O que vais fazer?
Talvez
funcione, talvez me magoe. Talvez perca tudo.. talvez ganhe o mundo!
Puxo a
Incerteza para junto de mim. Tantas vezes brigamos mas ela de verdade não sabe
que não poderia viver sem ela. Desafia o meu ser, mantém-me vigilante.
Num
abraço apertado sussurro-lhe ao ouvido que decidi aceitar que não sei, que não
tenho todas as respostas. Ela debate-se, num olhar confuso. Aí sou livre.
Existe o tudo e o nada. Meu corpo estremece de gargalhadas nervosas. Rolamos
pelo parapeito abaixo num salto sem retorno.
"O
que estás a fazer?!", pergunta-me ela em sufoco.
"Não
posso fazer mais que senão... tentar."
"Tentar é a chama que incendeia a vida de conquistas"
Autor Desconhecido
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