“Um escritor somente é escritor quando menos é escritor,
no instante mesmo em que tenta ser escritor e escreve.” - Charles
Kiefer, Para Ser Escritor
Sempre pensei que os
escritores escrevessem apenas por gosto, diz-se que nestes momentos fluem rios
de inspiração poética… Mas há fases em os mesmos têm que escrever por
compromissos da vida, ser um profissional das letras e nestes momentos a
inspiração torna-se lembrança e os escritos não fluem na mesma correnteza de um
rio. Sente-se saudades das doces letras, qualquer escrita torna-se imperfeita e
sem precisão, amontoam-se os rascunhos, mas no final, quem sabe! Não brote um
simples texto.
Confesso que, não penso
como Benjamin Franklin que dizia, “se não queres ser esquecido quando morreres,
escreva algo que valha a pena de se ler ou faça alguma coisa sobre a qual vale
a pena escrever”, gosto apenas de viver uma vida simples, não me
imagino eternizado numa galeria, seja de que forma for. Talvez porque as coisas
eternas me assustem, ou são entediantes – claro que há aqui diferenças sobre o
que se supõem do que seja vida eterna. Ainda assim gosto de escrever, quem sabe
não devia estar fazendo algo diferente agora?! Aqui sinto-me tentado a
concordar com à Glória Steinem, “escrever é a única coisa que,
quando o faço, não sinto que deveria estar fazendo outra coisa.”, ainda bem
que é apenas mera tentação, e sempre posso resisti-la! Quando
paro p’ra escrever, costumo pensar que devia arriscar-me noutra área
artística. Teatro! Acho bem mais fácil ficar por cima de um palco e representar
a vida, colorida pelos múltiplos holofotes e aplausos ilusórios dos
espectadores. Há quem ache que “devemos escrever sobre aquilo que sabemos
e se adora e que quando nós conseguimos expor no papel, há isto chama-se boa
escrita”, agora lembro-me, essa frase é de autoria de Joel
Chandler Harris.
Bem, boa escrita é algo
muito subjectivo, leva-se tempo p’ra ser um bom escritor e fazer boa
escrita “literatura”, qualquer um pode escrever sobre o que lhe convém, mas quando
se trata de literatura sei que há muitos pressupostos que fazem de uma obra
escrita um material literário, talvez o autor tenha escrito essa frase tendo em
conta tais pressuposto estético-literários, por isso muita calma ao
interpretar a frase. Eu muito particularmente me identifico nas frases de
Anaïs Nin “Escrevemos para saborear a vida duas vezes – no
momento e em retrospectiva. O papel de um escritor não é dizer aquilo que todos
somos capazes de dizer, mas sim aquilo que não somos capazes de dizer.”, vezes há
que me imagino a reescrever a minha história de vida, e a literatura dá-me este
poder ou ilusão de estar no controle, colorir momentos, rascunhar antes onde
falhei, colocar minhas nítidas impressões em outros momentos que desejaria para
mim. Na escrita as palavras são tintas, assim como uns pintam quadros, nós
podemos trazer sobre o papel tudo que flui de dentro, um outro lado que nos faz
companhia nas horas insólitas. Não escrevo sem esperanças, o que busco é
esperança por meio da escrita. Escrevo porque sou mensageiro, porque gosto de
incomodar tal como bem disse José Eduardo Agualusa “Escrevo para
incomodar, às vezes acerto!”.
Por: Oliveira Prazeres
Sem comentários:
Enviar um comentário