Um velho ditado defende que‘’a vida é 10% o que nos acontece e 90% a
forma como reagimos.’’ Com isto
dito, percebemos que temos poder para criar a nossa própria realidade. Através da jornada de Sonhadora Compulsiva, uma jovem
angolana de 26 anos, temas como a vida e a morte, religião e
sistema de crenças são abordados na novela ‘’Ausentes’’ de Stella Constantina.
Particularmente, a autora explora a perda e a forma como lidamos com a mesma; tomando como exemplo a protagonista que, ao perder o pai e o namorado, decide
então escrever 13 cartas à morte para perceber o porquê da sua existência.
Durante este percurso ela amadurece e ganha uma visão mais ampla sobre o mundo e a própria morte. Recorrendo a utilização de monólogos, reflexões e uso
especial de pontos de interrogação, metáforas e personificação, a narradora leva-nos a uma viagem que nos
permite descobrir que a beleza do mundo só é apreciada quando aprendemos a olhar
com calma e a aceitar o ciclo de vida.
A dor de perder alguém
especial, não passa; é apenas adormecida pelo tempo, mas permanece sensível à cada
lembrança. A autora ressalta isso durante as reflexões de Sonhadora Compulsiva
que, apesar de continuar a viver a sua rotina, lamenta a perda do seu pai e do seu amado ao confessar que ‘’as lágrimas
correm, secam, esquecemo-nos delas, depois voltam sem aviso prévio, algumas
vezes até com aviso, encharcam a nossa alma, inundam os nossos olhos e
afogam-nos, consomem-nos por um tempo, e depois, novamente passam...’’ (P. 34).
Em outras palavras, a dor da perda não chega e passa de repente. Pelo
contrário, instala-se permanentemente mas não se manifesta todos os dias, pois espera
por gatilhos. Nesta passagem, devido a escolha de palavras e a construção frásica, percebemos que a
dor da perda é um ciclo interminável que apresenta vários estágios.
As pessoas lidam de forma
diferente com a perda, enquanto algumas choram e afundam-se no luto eterno,
outras encaram as perdas como combustível para aproveitar cada segundo de vida
e honrar os que se foram. No livro, a protagonista passou por um processo de
evolução; transitando de enraivecida e impulsiva à ponderada e sossegada, ela
mesmo explica que passou a sentir ‘’medo,
depois segurança e hoje consolo'’ (P.
127). A sua evolução também é visível
na forma como encara a morte ao longo do livro; primeiro como o pior de todos
os males, o ‘’Deus da tristeza, da
angústia, da dor e do medo’’ (P. 64 ) depois como ‘’bela, assim como a noite, misteriosa, fria, distante...’’ (P. 101). Nas suas cartas, a narradora também muda a forma de tratamento de Senhora Morte para Mor (sétima carta), alterando
também a forma de tratamento de você para tu, o que indica intimidade.
Diferente de Sonhadora Compulsiva, algumas pessoas lidam com a perda de forma mais trágica, ‘’inúmeras pessoas ficam deprimidas, desesperadas’’(P. 128) outras chegam a desistir da vida. Em outras palavras, a forma como lidamos depende da nossa compreensão sobre a morte. Quanto mais compreendermos e aceitarmos o processo, menos dolorosa é a vida pós-perda. Até porque nós somos uma extensão daqueles que perdemos, estamos aqui para dar vida à sonhos que não se realizaram e, de alguma forma, dar continuidade à missões que foram deixadas pela metade.
Diferente de Sonhadora Compulsiva, algumas pessoas lidam com a perda de forma mais trágica, ‘’inúmeras pessoas ficam deprimidas, desesperadas’’(P. 128) outras chegam a desistir da vida. Em outras palavras, a forma como lidamos depende da nossa compreensão sobre a morte. Quanto mais compreendermos e aceitarmos o processo, menos dolorosa é a vida pós-perda. Até porque nós somos uma extensão daqueles que perdemos, estamos aqui para dar vida à sonhos que não se realizaram e, de alguma forma, dar continuidade à missões que foram deixadas pela metade.
Portanto, é importante celebrarmos a vida
enquanto a temos. O luto faz com que fiquemos focados no passado ou que soframos só de pensar no futuro, pois buscamos lembranças ou visualizamos o vazio dos dias que estão por vir. No meio de tantos pensamentos, acabamos por nos
esquecer de que não sabemos quanto tempo temos neste mundo e devemos aproveitar
cada momento como se fosse o último; sem permitir que por ‘’preguiça, sono, ansiedade ou talvez por medo’’ (P. 79) deixemos
de aproveitar o presente e apreciar as pessoas
que estão ao nosso lado a precisar de um carinho, um gesto de afecto, uma
palavra de consolo, um sorriso sincero, um abraço apertado. É importante
percebermos que estamos vivos para cumprir uma missão e iremos cumpri-la, a não ser que (como
na maior parte dos casos) as acções humanas façam-nos receber uma ‘’visita
prematura’’ (P. 136) da morte.
Considerando os pontos
anteriores, posso concluir que a novela ''Ausentes'' ilustra a influência das nossas experiências e da nossa visão sobre a morte na forma como lidamos com a perda. Enquanto alguns sofrem eternamente
e chegam até a tirar a própria vida, a Sonhadora Compulsiva escreveu cartas à
morte, na esperança de receber respostas para as suas questões; e passou de uma
alma desesperada à uma pessoa consciente sobre a leveza de viver o momento e
aceitar a ordem natural da existência.
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